SERRA PELADA
Filme brasileiro retrata busca do ouro regada a sangue e traição
O território conhecido como Serra Pelada foi o maior garimpo a céu aberto do mundo, localizado na cidade de Curionópolis, interior do Pará, bem próximo da floresta amazônica. Pessoas de várias partes do país e até de países vizinhos se aventuraram pela região no início da década de 1980 atraídas por riqueza e prosperidade. O filme dirigido e roteirizado por Heitor Dhalia mostra a trajetória de Juliano e Joaquim, amigos desde a infância que se aventuram pelo inóspito território que em pouco tempo descobrem ser uma terra sem lei.
O roteiro fictício apresenta uma trama muito bem construída e encabeçada por Juliano Cazarré no papel de Juliano, um sujeito despojado e de aparência física forte, e seu amigo Joaquim vivido por Júlio Andrade, sujeito magrela e aparência frágil, porém metódico e muito inteligente, pois é um professor. Os amigos unem forças no trabalho, cada um com seus objetivos, Joaquim especialmente quer cumprir a promessa que fez à esposa de voltar para casa rico e dar uma vida melhor à ela e sua filha. Juliano por sua vez parece não ter um norte exato na vida, a não ser a riqueza, algo que poderá ser a ruína de sua vida no decorrer da narrativa.
Inevitavelmente Serra Pelada é um verdadeiro faroeste brasileiro, pois a busca por riquezas numa terra inóspita onde impera a lei do mais forte é o fio condutor da trama que mostra uma gradual transformação (ou revelação) de seus personagens movidos por sonhos ou apenas cobiça como pode ser visto na ganância que todos expressam em querer a todo custo delimitar sua própria área de garimpo, o que ocasionou em vários conflitos e mortes sem nenhuma intervenção do governo naquela época de ditadura militar. E quase toda a região do garimpo era dominada e controlada por coronéis como o traiçoeiro Lindo Rico, interpretado de forma um tanto hilária por Wagner Moura.
A trama também destaca o trabalho de mulheres, que não eram necessariamente garimpeiras, mas prostitutas e dançarinas de boate e como é dito em off no início da narrativa, algumas enriqueceram ganhando dinheiro de garimpeiros que gastavam tudo com elas ou ainda mulheres que tinham a sorte de se envolver com os poderosos coronéis da região, como se pode ver na história de Tereza, vivida por Sophie Charlotte, amante do coronel Miranda, interpretado por Matheus Nachtergaele.
Traições, emboscadas e perseguições moldam a ação do longa tanto quanto o ótimo elenco que preenche a tela satisfatoriamente embora a cena de luta apresente uma quebra de rítimo devido à edição cheia de cortes que Dhalia utilizou e também as demais cenas físicas são bem executadas embora filmadas com câmera tremida.
O longa orçado em 8,4 milhões de reais tem uma bela fotografia composta de tons que variam do marrom ao amarelo dando um aspecto levemente dourado e bem empoeirado representando fielmente o aspecto sujo da terra do ouro cujas filmagens ocorreram em Mogi das Cruzes no interior de São Paulo num cenário visualmente bem parecido com a Serra Pelada da década de 80, e as imagens reais de arquivo jornalístico da época inseridas cuidadosamente no filme completam o visual da película.
O filme exibido em outubro de 2013 nos cinemas, também foi transmitido em janeiro último na TV aberta pela rede globo em formato de minissérie em capítulos curtos, mas obviamente fica melhor apreciado nos formatos digitais para o público não correr o risco de perder nenhum momento de uma valiosa embora pequena saga do ouro.
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