terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

jubileu faroestico

DJANGO

Há 50 anos surgia nas telas do cinema o mais amado pistoleiro do Spaghetti Western


  Em 1966, dos sets de filmagem de algum estúdio italiano estreava nas telas do cinema o personagem que veio a se tornar o mais icônico do gênero western, e em especial do spaguetti western, gênero surgido na Itália. Sob a direção de Sergio Corbucci (1926 - 1990), um promissor cineasta italiano, Django ganhava vida na interpretação do jovem ator Franco Nero, que dali a pouco tempo tornaria-se astro do cinema italiano e de renome internacional como era de se esperar.
   O gênero faroeste, genuinamente norte americano por narrar aventuras ambientadas na época da colonização dos Estados Unidos, conquistou muito a admiração do público italiano. Embora não se saiba bem ao certo o porquê de tal admiração, o gênero ganhou vida própria no cinema italiano nas mãos de hábeis roteiristas e de diretores que produziram uma grande safra de filmes que lotavam as salas de cinema no país da macarronada chegando a conquistar o público do mundo todo.

Sergio Corbucci
   O gênero Spaghetti Western surgiu precisamente com o diretor Sergio Leone, que comandou três filmes de grande sucesso que ficaram conhecidos como a trilogia dos dólares: Por Um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), todos estrelados por Clint Eastwood, ator norte-americano que mais tarde tornaria-se um dos maiores astros de Hollywood.
  Mas o que isso tem a ver com Django? Tem tudo a ver, pois após o sucesso dos três filmes acima citados, estreava Django, com um visual bastante original e idéias inovadoras que inevitavelmente o tornaram um dos maiores cults do cinema mundial e foi determinante para definir as convenções do spaghetti western. Afinal, como não querer ver o filme de um pistoleiro que se veste de preto, anda a pé e arrasta um caixão?? Impossível não querer conhecer tal personagem e tentar desvendar os mistérios de sua jornada.

O tom sombrio do filme e o perfil misterioso do personagem até então era algo
nunca visto em westerns, mas tonou-se característico nas produções italianas

  Franco Nero, jovem e iniciante ator com apenas 23 anos, teve a ótima idéia de vestir-se de preto para compor seu personagem, pois de certo modo a cor  remete a seu nome Nero que em italiano significa negro, conforme relata o ator nos extras do dvd do filme. Além disso, Nero teve primeiramente a vitória de ser escolhido para o papel, já que foi selecionado entre 8 atores, vários dos quais já eram astros do cinema italiano. 
  Ao salvar a vida de uma mulher indefesa logo no início da narrativa, a jornada de Django começa justamente por ter salvo tal mulher chamada Maria, considerada uma traidora por ter fugido das garras de Major Jackson (Eduardo Fajardo), o homem mais rico da região, dono de terras que oprime sem escrúpulos a população de uma pequena cidade situada próximo à fronteira do México. Jackson é um magnata racista que subjuga mexicanos que aparecem em sua cidade e impõe sua própria lei pelas armas. 
Django salva Maria de um grupo de homens que queriam executá-la
  Entretanto, Maria também é considerada uma traidora pelos mexicanos, pois ela também já esteve do lado deles anteriormente, mas por algum motivo acabou fugindo e passou para o lado do Major Jackson, ou seja, Maria (Loredana Nusciak) é uma mulher em busca de um norte para uma vida segura em meio a uma guerra entre americanos e mexicanos que habitam nas inóspitas proximidades da fronteira. 

Major Jackson



General Hugo
  Ao hospedar-se no saloon da pequena cidade, Django descobre o que ocorre e porque os poucos habitantes vivem sob o domínio do medo, afinal trata-se de uma terra sem lei onde as ordens do Major Jackson imperam sob o local. Ao entrar em confronto com os homens do major em um saloon, Django então coloca-se no fogo cruzado no qual a pequena cidade se encontra, entre a opressão do major e os imigrantes mexicanos.    Embora Django seja a princípio o herói da curiosa trama, dispondo-se a enfrentar sem medo algum os homens de Jackson, mais adiante entre  o segundo e terceiro ato do filme ele revela-se um anti-herói já que após roubar uma grande quantia em ouro junto a um bando de mexicanos cujo líder, general Hugo (José Bodalo), que ele conhece de longa data, o misterioso pistoleiro arma um engenhoso plano para enganar os mexicanos e fugir sozinho com o precioso carregamento.
  Como se pode notar, o filme segue idéias semelhantes aos filmes de Sergio Leone estrelados por Eastwood cujos personagens não eram tão exemplares como heróis, e agiam por interesse próprio manipulando todos ao seu redor. O enredo que permeia tanto os filmes de Leone quanto o filme de Corbucci é originário do filme japônes Yojimbo (1963), obra de Akira Kurosawa que narra a estória de um samurai que chega a uma pequena cidade dominada por duas quadrilhas rivais e consegue jogar uma contra a outra para que ambas se destruam - reza a lenda que ambos os Sergios eram fãs da obra de Kurosawa e após ingressarem no cinema como diretores, cada um teve a idéia de fazer sua própria versão do filme nipônico, porém versões estas não autorizadas pelos produtores japoneses de modo que rendeu processo judicial na época. 

Por décadas o filme foi proibido nos cinemas do Reino Unido
devido ao excesso de violência
  Emoldurado por inúmeras qualidades, Django parecia mesmo predestinado a torna-se um grande sucesso do cinema italiano e um dos maiores ícones da cultura pop, a começar por Franco Nero que ao ser escolhido pelos produtores Manolo Bolognini e Franco Rosselini, tornou-se astro precoce, algo que foi muito surpreendente já que famosos astros da época como o norte-americano Mark Damon e o espanhol Peter Martel também estavam cogitados para interpretar o pistoleiro.

  Dentre as surpresas do roteiro, a mais óbvia e marcante é o que Django carregava dentro do caixão que ele arrastava por caminhos lamacentos em boa parte do filme - ao abrir a tampa num momento que precede um violento tiroteio, o misterioso pistoleiro retira de dentro uma pesada metralhadora para então confrontar o exercito de assassinos enviado pelo Major Jackson, e em menos de 1 minuto Django derruba todos os homens do major sob as rajadas de sua potente metralhadora, uma maravilha da tecnologia então recente da época retratada.


   Nota-se que a produção obviamente teve um orçamento pequeno sendo que basicamente a cidade "fantasma" parece ser o único cenário construído para o filme. Contudo, Corbucci soube casar muito bem os poucos recursos de que dispunha com idéias originais  para compor sua "pequena" obra prima do spaghetti western. Além do mais, Django possivelmente tem a mais inesquecível canção tema já feita para um filme do gênero - belamente composta por Luis Bacalov e interpretada por Roberto Fia na versão original italiana. Porém, fora da Itália a música ficou mais conhecida na voz de Rocky Roberts na versão cantada em inglês.

O duelo no cemitério, cena que encerra o filme é uma das mais originais do
spaghetti western, pois Django com as mãos feridas e quebradas duela com 6 algozes
   Django conquistou legiões de fãs no mundo todo e seu grande sucesso deu origem a inúmeros filmes que tentaram em vão repetir o sucesso, mas com outros atores e roteiros absurdos que não tinham nada a ver com a idéia original concebida por Sergio Corbucci e Bruno Corbucci. Obviamente o fã mais ilustre do pistoleiro é o cineasta norte-americano Quentin Tarantino que amante confesso de spaghetti westerns prestou bela homenagem ao personagem no sucesso Django Livre (2013) convidando Franco Nero numa divertida participação.
  O filme de Corbucci nunca teve uma refilmagem, mas teve uma sequência oficial em 1987 intitulada Django, A volta do vingador, novamente estrelado por Franco Nero, mas dirigido por Nello Rossati - porém, muito distante da idéia original e com roteiro um tanto inferior. Sem dúvida só o filme original de Corbucci permaneceu insuperável e sobrevive seguramente como um dos maiores faroestes de todos os tempos. (R.A.)


Música tema na voz de Roberto Fia



Na voz de Rocky Roberts


TRAILER



Django (Itália, 1966)

Roteiro: Sergio Corbucci, Bruno Corbucci, Franco Rosseti, Jose Gutierrez Maesso, Piero Vivarelli

Direção:

Elenco: Franco Nero, Loredana Nusciak, Eduardo Fajardo, Jose Bodalo, Angel Alvarez

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