DJANGO LIVRE
Novo filme de Tarantino resgata o gênero
Em tempos modernos demais só mesmo um cineasta como Quentin Tarantino para conseguir resgatar os velhos e bons tempos do cinema ao aventurar-se no western, gênero cada vez mais ignorado e esquecido por platéias cada vez mais exigentes e não necessariamente de gosto refinado. Django Livre (Django Unchained, 2012) homenageia belamente o Spaghetti Western, porém com ares de blaxploitation, ao criar um herói negro que persegue e mata vilões brancos, subgênero surgido na década de setenta e que Tarantino adora reverenciar, como pode ser notado em trabalhos anteriores como Pulp Fiction e Jackie Brown. Pela localização geográfica em que se passa a história de Django Livre, o gênero deveria ser chamado de Southern (Sul), pois a película retrata o sul escravagista dos Estados Unidos; porém o termo Western ou Faroeste é mais usual, além de estar profundamente enraizado no imaginário popular.
Tarantino |
Contando com um elenco excepcional, o filme traz o melhor de tudo que já foi visto na filmografia de Tarantino, suas incansáveis referências à cultura pop e cenas de ação e violência de tirar o fôlego de qualquer fã do cinema físico ou de gêneros em geral, e embora a idéia de um cowboy negro não seja nenhuma novidade na história do cinema, não deixa de ser interessante para os tempos atuais, pois nos tempos áureos houve vários westerns protagonizados por atores negros interpretando cowboys ou pistoleiros em filmes como Audazes e Malditos (Sergeant Rudlege, 1960), Cem Rifles (100 Rifles, 1964) e Um por Deus, outro pelo Diabo (Buck and The Preacher, 1972), só para citar alguns.
Além de exaltar a trajetória de hérois negros no cinema, Tarantino presta digna homenagem ao spaghetti western ao abrir o filme com a bela canção do filme original Django, de 1966, interpretada por Rocky Roberts. Além dessa há várias outras belas canções populares que embalam a aventura Tarantinesca tais como Ain´t no Grave, de Johnny Cash, The Payback, de James Brown e até mesmo uma de Hip Hop, 100 Black Coffins, de Rick Ross ; há músicas que pertencem a westerns famosos do passado e também a bela trilha incidental composta pelo mestre Ennio Morricone, clara referência ao grande e saudoso cineasta Sérgio Leone.
A salada pop de Tarantino não estaria completa sem a presença do ator Franco Nero, que interpretou o Django original no cinema italiano, fazendo uma divertida participação para o deleite dos fãs mais nostálgicos. Aliás, a grande força do longa reside mesmo em seu elenco, pois Cristoph Waltz, que já ganhara o oscar de ator coadjuvante em Bastardos Inglórios (Inglórious Bastards, 2010), faz de King Schultz um tipo até certo ponto cínico, porém diplomático e elegante, tal como o general Hanz Landa, que ele fez em Bastardos; a gradual evolução de Django é notável na interpretação de Jamie Foxx que de escravo apático se torna um hábil pistoleiro e um homem muito seguro e convicto de sua liberdade; e se Leonardo DiCaprio faz um dos vilões mais cruéis da filmografia de Tarantino, é Samuel L. Jackson que rouba a cena como Stephen, um escravo que se rende aos caprichos de seu patrão, Calvin Candie, revelando-se desprezível e ao mesmo tempo, manipulador a fim de obter todos os privilégios possíveis de Candie.
Django Livre é um dos melhores filmes deste ano e certamente será lembrado como um dos melhores filmes da atual década. E se o western não é prestigiado o suficiente a ponto de voltar definitivamente às telas do cinema, ao menos será constantemente lembrado e dignamente homenageado, enquanto houver cineastas do calibre de Quentin Tarantino. E isto já é grande triunfo.
Trailer
EUA , 2012 - 165 min.
Faroeste
Faroeste
Direção:
Quentin Tarantino
Quentin Tarantino
Roteiro:
Quentin Tarantino
Quentin Tarantino
Elenco:
Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Zoë Bell, Kerry Williams, James Rema
Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson, Zoë Bell, Kerry Williams, James Rema