DJANGO
Há 50 anos surgia nas telas do cinema o mais amado pistoleiro do Spaghetti Western
Em 1966, dos sets de filmagem de algum estúdio italiano estreava nas telas do cinema o personagem que veio a se tornar o mais icônico do gênero western, e em especial do spaguetti western, gênero surgido na Itália. Sob a direção de Sergio Corbucci (1926 - 1990), um promissor cineasta italiano, Django ganhava vida na interpretação do jovem ator Franco Nero, que dali a pouco tempo tornaria-se astro do cinema italiano e de renome internacional como era de se esperar.
O gênero faroeste, genuinamente norte americano por narrar aventuras ambientadas na época da colonização dos Estados Unidos, conquistou muito a admiração do público italiano. Embora não se saiba bem ao certo o porquê de tal admiração, o gênero ganhou vida própria no cinema italiano nas mãos de hábeis roteiristas e de diretores que produziram uma grande safra de filmes que lotavam as salas de cinema no país da macarronada chegando a conquistar o público do mundo todo.
O gênero Spaghetti Western surgiu precisamente com o diretor Sergio Leone, que comandou três filmes de grande sucesso que ficaram conhecidos como a trilogia dos dólares: Por Um Punhado de Dólares (1964), Por Uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), todos estrelados por Clint Eastwood, ator norte-americano que mais tarde tornaria-se um dos maiores astros de Hollywood.
Mas o que isso tem a ver com Django? Tem tudo a ver, pois após o sucesso dos três filmes acima citados, estreava Django, com um visual bastante original e idéias inovadoras que inevitavelmente o tornaram um dos maiores cults do cinema mundial e foi determinante para definir as convenções do spaghetti western. Afinal, como não querer ver o filme de um pistoleiro que se veste de preto, anda a pé e arrasta um caixão?? Impossível não querer conhecer tal personagem e tentar desvendar os mistérios de sua jornada.
Ao hospedar-se no saloon da pequena cidade, Django descobre o que ocorre e porque os poucos habitantes vivem sob o domínio do medo, afinal trata-se de uma terra sem lei onde as ordens do Major Jackson imperam sob o local. Ao entrar em confronto com os homens do major em um saloon, Django então coloca-se no fogo cruzado no qual a pequena cidade se encontra, entre a opressão do major e os imigrantes mexicanos. Embora Django seja a princípio o herói da curiosa trama, dispondo-se a enfrentar sem medo algum os homens de Jackson, mais adiante entre o segundo e terceiro ato do filme ele revela-se um anti-herói já que após roubar uma grande quantia em ouro junto a um bando de mexicanos cujo líder, general Hugo (José Bodalo), que ele conhece de longa data, o misterioso pistoleiro arma um engenhoso plano para enganar os mexicanos e fugir sozinho com o precioso carregamento.
Como se pode notar, o filme segue idéias semelhantes aos filmes de Sergio Leone estrelados por Eastwood cujos personagens não eram tão exemplares como heróis, e agiam por interesse próprio manipulando todos ao seu redor. O enredo que permeia tanto os filmes de Leone quanto o filme de Corbucci é originário do filme japônes Yojimbo (1963), obra de Akira Kurosawa que narra a estória de um samurai que chega a uma pequena cidade dominada por duas quadrilhas rivais e consegue jogar uma contra a outra para que ambas se destruam - reza a lenda que ambos os Sergios eram fãs da obra de Kurosawa e após ingressarem no cinema como diretores, cada um teve a idéia de fazer sua própria versão do filme nipônico, porém versões estas não autorizadas pelos produtores japoneses de modo que rendeu processo judicial na época.
Emoldurado por inúmeras qualidades, Django parecia mesmo predestinado a torna-se um grande sucesso do cinema italiano e um dos maiores ícones da cultura pop, a começar por Franco Nero que ao ser escolhido pelos produtores Manolo Bolognini e Franco Rosselini, tornou-se astro precoce, algo que foi muito surpreendente já que famosos astros da época como o norte-americano Mark Damon e o espanhol Peter Martel também estavam cogitados para interpretar o pistoleiro.
Dentre as surpresas do roteiro, a mais óbvia e marcante é o que Django carregava dentro do caixão que ele arrastava por caminhos lamacentos em boa parte do filme - ao abrir a tampa num momento que precede um violento tiroteio, o misterioso pistoleiro retira de dentro uma pesada metralhadora para então confrontar o exercito de assassinos enviado pelo Major Jackson, e em menos de 1 minuto Django derruba todos os homens do major sob as rajadas de sua potente metralhadora, uma maravilha da tecnologia então recente da época retratada.
Nota-se que a produção obviamente teve um orçamento pequeno sendo que basicamente a cidade "fantasma" parece ser o único cenário construído para o filme. Contudo, Corbucci soube casar muito bem os poucos recursos de que dispunha com idéias originais para compor sua "pequena" obra prima do spaghetti western. Além do mais, Django possivelmente tem a mais inesquecível canção tema já feita para um filme do gênero - belamente composta por Luis Bacalov e interpretada por Roberto Fia na versão original italiana. Porém, fora da Itália a música ficou mais conhecida na voz de Rocky Roberts na versão cantada em inglês.
Django conquistou legiões de fãs no mundo todo e seu grande sucesso deu origem a inúmeros filmes que tentaram em vão repetir o sucesso, mas com outros atores e roteiros absurdos que não tinham nada a ver com a idéia original concebida por Sergio Corbucci e Bruno Corbucci. Obviamente o fã mais ilustre do pistoleiro é o cineasta norte-americano Quentin Tarantino que amante confesso de spaghetti westerns prestou bela homenagem ao personagem no sucesso Django Livre (2013) convidando Franco Nero numa divertida participação.
O filme de Corbucci nunca teve uma refilmagem, mas teve uma sequência oficial em 1987 intitulada Django, A volta do vingador, novamente estrelado por Franco Nero, mas dirigido por Nello Rossati - porém, muito distante da idéia original e com roteiro um tanto inferior. Sem dúvida só o filme original de Corbucci permaneceu insuperável e sobrevive seguramente como um dos maiores faroestes de todos os tempos. (R.A.)
O gênero faroeste, genuinamente norte americano por narrar aventuras ambientadas na época da colonização dos Estados Unidos, conquistou muito a admiração do público italiano. Embora não se saiba bem ao certo o porquê de tal admiração, o gênero ganhou vida própria no cinema italiano nas mãos de hábeis roteiristas e de diretores que produziram uma grande safra de filmes que lotavam as salas de cinema no país da macarronada chegando a conquistar o público do mundo todo.
Sergio Corbucci |
Mas o que isso tem a ver com Django? Tem tudo a ver, pois após o sucesso dos três filmes acima citados, estreava Django, com um visual bastante original e idéias inovadoras que inevitavelmente o tornaram um dos maiores cults do cinema mundial e foi determinante para definir as convenções do spaghetti western. Afinal, como não querer ver o filme de um pistoleiro que se veste de preto, anda a pé e arrasta um caixão?? Impossível não querer conhecer tal personagem e tentar desvendar os mistérios de sua jornada.
O tom sombrio do filme e o perfil misterioso do personagem até então era algo nunca visto em westerns, mas tonou-se característico nas produções italianas |
Franco Nero, jovem e iniciante ator com apenas 23 anos, teve a ótima idéia de vestir-se de preto para compor seu personagem, pois de certo modo a cor remete a seu nome Nero que em italiano significa negro, conforme relata o ator nos extras do dvd do filme. Além disso, Nero teve primeiramente a vitória de ser escolhido para o papel, já que foi selecionado entre 8 atores, vários dos quais já eram astros do cinema italiano.
Ao salvar a vida de uma mulher indefesa logo no início da narrativa, a jornada de Django começa justamente por ter salvo tal mulher chamada Maria, considerada uma traidora por ter fugido das garras de Major Jackson (Eduardo Fajardo), o homem mais rico da região, dono de terras que oprime sem escrúpulos a população de uma pequena cidade situada próximo à fronteira do México. Jackson é um magnata racista que subjuga mexicanos que aparecem em sua cidade e impõe sua própria lei pelas armas.
Django salva Maria de um grupo de homens que queriam executá-la |
Entretanto, Maria também é considerada uma traidora pelos mexicanos, pois ela também já esteve do lado deles anteriormente, mas por algum motivo acabou fugindo e passou para o lado do Major Jackson, ou seja, Maria (Loredana Nusciak) é uma mulher em busca de um norte para uma vida segura em meio a uma guerra entre americanos e mexicanos que habitam nas inóspitas proximidades da fronteira.
Major Jackson |
General Hugo |
Como se pode notar, o filme segue idéias semelhantes aos filmes de Sergio Leone estrelados por Eastwood cujos personagens não eram tão exemplares como heróis, e agiam por interesse próprio manipulando todos ao seu redor. O enredo que permeia tanto os filmes de Leone quanto o filme de Corbucci é originário do filme japônes Yojimbo (1963), obra de Akira Kurosawa que narra a estória de um samurai que chega a uma pequena cidade dominada por duas quadrilhas rivais e consegue jogar uma contra a outra para que ambas se destruam - reza a lenda que ambos os Sergios eram fãs da obra de Kurosawa e após ingressarem no cinema como diretores, cada um teve a idéia de fazer sua própria versão do filme nipônico, porém versões estas não autorizadas pelos produtores japoneses de modo que rendeu processo judicial na época.
Por décadas o filme foi proibido nos cinemas do Reino Unido devido ao excesso de violência |
Dentre as surpresas do roteiro, a mais óbvia e marcante é o que Django carregava dentro do caixão que ele arrastava por caminhos lamacentos em boa parte do filme - ao abrir a tampa num momento que precede um violento tiroteio, o misterioso pistoleiro retira de dentro uma pesada metralhadora para então confrontar o exercito de assassinos enviado pelo Major Jackson, e em menos de 1 minuto Django derruba todos os homens do major sob as rajadas de sua potente metralhadora, uma maravilha da tecnologia então recente da época retratada.
Nota-se que a produção obviamente teve um orçamento pequeno sendo que basicamente a cidade "fantasma" parece ser o único cenário construído para o filme. Contudo, Corbucci soube casar muito bem os poucos recursos de que dispunha com idéias originais para compor sua "pequena" obra prima do spaghetti western. Além do mais, Django possivelmente tem a mais inesquecível canção tema já feita para um filme do gênero - belamente composta por Luis Bacalov e interpretada por Roberto Fia na versão original italiana. Porém, fora da Itália a música ficou mais conhecida na voz de Rocky Roberts na versão cantada em inglês.
O duelo no cemitério, cena que encerra o filme é uma das mais originais do spaghetti western, pois Django com as mãos feridas e quebradas duela com 6 algozes |
O filme de Corbucci nunca teve uma refilmagem, mas teve uma sequência oficial em 1987 intitulada Django, A volta do vingador, novamente estrelado por Franco Nero, mas dirigido por Nello Rossati - porém, muito distante da idéia original e com roteiro um tanto inferior. Sem dúvida só o filme original de Corbucci permaneceu insuperável e sobrevive seguramente como um dos maiores faroestes de todos os tempos. (R.A.)
Música tema na voz de Roberto Fia
Na voz de Rocky Roberts
TRAILER
Django (Itália, 1966)
Roteiro: Sergio Corbucci, Bruno Corbucci, Franco Rosseti, Jose Gutierrez Maesso, Piero Vivarelli
Direção:
Elenco: Franco Nero, Loredana Nusciak, Eduardo Fajardo, Jose Bodalo, Angel Alvarez